bisbilhotice literária

Eu não me considero uma pessoa curiosa-invasiva, mas minha bisbilhotice tem um ponto fraco: livros. Sempre que posso, cresço o olho pra saber o que as pessoas estão lendo. Já protagonizei contorcionismos só pra ver uma capa e demorei mais do que precisava pra descer do ônibus na tentativa, por exemplo, de ler um trecho, por menor que fosse, de uma página que estava dando sopa.
Às vezes, essas pequenas intromissões rendem boas surpresas. Dia desses, organizando arquivos no computador, revisitei uma foto que fiz num café em Buenos Aires. Até então, não tinha me dado conta de que era possível ver a capa da obra nas mãos da minha vizinha de mesa. Quando percebi e ampliei a imagem, identifiquei Días sin hambre, de Delphine de Vigan. Isso despertou a minha curiosidade.
Há livros que falam muito sobre quem os lê, e há algo de muito prazeroso em identificar afinidades literárias em situações cotidianas, mesmo que a maioria de nós celebre essas conexões em silêncio. É por isso que, quando leio um livro em público, não me esqueço dos bisbilhoteiros literários como eu e, sempre que posso, deixo a capa à mostra, pronta pra ser devidamente investigada.
Em tempos hostis, camaradagens como essa acabam funcionando, em alguma medida, como um gesto de simpatia bastante bem-vindo.