el peligro soy yo
Dia desses, esbarrei num vídeo que prova: nem tudo está perdido no Instagram.
O cenário é um beco em Barcelona. É noite e, entre cortes e enquadramentos dinâmicos, uma jovem caminha lançando gestos e olhares intimidadores ao som de Pump Up the Jam, hit dos anos 90.
De repente, um movimento brusco nos aproxima da nossa heroína que, com um olhar afrontoso, cola na fachada de um edifício o adesivo de um gato fazendo joinha.
Há uma frase fixada na tela: “Yo caminando de noche por España sin miedo al peligro. Porque soy latina y el peligro soy yo.”
Em apenas nove segundos, o vídeo sintetiza com maestria o suco da experiência de muitos imigrantes latinos na Europa: as atitudes da moça só são consideradas hostis enquanto estão associadas à sua origem, ao contexto da imigração.
Sob a ótica do europeu médio, a presença do imigrante já é, por si só, um ato de transgressão – contexto no qual colar um adesivo fofo na parede se transforma num gesto de vandalismo. Fosse uma moça europeia, a ameaça não estaria ali.
Nem sempre um reels divertidinho é só um reels divertidinho.