inferno astral
não sei se acredito em inferno astral, mas, existindo ou não, neste ano ele se fez presente na minha vida com pompa e circunstância.
além de ter experimentado uma série de pequenas derrotas, como perder a carteira, ser picado no banho por uma abelha e descobrir uma falha no celular justo num dia em que precisava do alarme tocando às quatro da manhã, o verão foi sofrido, com uma temporada de voos pra lá de exaustiva.
o ritmo foi tão, tão puxado que toda a minha rotina de sono, alimentação e exercícios se desregulou. minha bateria social caiu abaixo de zero e houve dias em que me tornei um monstrinho cuspidor de fogo, o mais puro suco do pessimismo e da rabugice, com picos de irritabilidade numa alta histórica.
sei que não deveria, mas confesso: às vezes, acho que só o ódio liberta.
a questão, pro meu enorme desgosto, é que o universo tem dado sinais de que, por algum motivo que desconheço, eu não nasci com licença pra despejar essa raiva a meu bel-prazer. sempre que lanço uma dose de ódio contra o mundo, por mais inofensiva que ela seja, o troco vem a galope.
hoje mesmo, preparando o café da manhã, deixei um ovo cair no chão depois de praguejar mentalmente contra um cnpj.
achei esse acúmulo de situações muita humilhação pra uma pessoa só, mas juro que entendi o recado e que, sempre que topar com uma dessas ondas de falta de sorte – astral ou não –, vou me esforçar ao máximo pra dominar o meu eu raivoso e tentar dar um exemplo melhor, mais evoluído e pacífico.
a partir de hoje, garanto, emitirei apenas vibrações de paz e amor.