sobre a vida em suspensão

(sus.pen.são) sf.
- ação ou resultado de suspender(-se).
 - interrupção, temporária ou não, de atividade ou trabalho.
 
das angústias
O vazio que precede a saída pra próxima viagem. Ter o mínimo possível na mala e, ao mesmo tempo, o máximo de coisas capazes de diminuir o desconforto da distância. Mesmo com todos os avanços da tecnologia, sentir que a vida segue num ritmo tropeçado, num ciclo quase infinito de pausas e retomadas, presenças e ausências.
do que vai (e do que fica)
Do que vai, cada vez menos. A depender da viagem, um livro, o tablet ou o Switch. Ou nem eles. Às vezes, bastam um par de meias quentes, tampões de ouvido e uma máscara de olhos pra forjar alguma escuridão. Um terço, um amuleto e um “Eu te amo” escrito num post-it antigo. Do que fica, mas no peito, a vontade de voltar.
do que é bom
Vez ou outra, o silêncio do hotel depois de uma longa jornada. A paisagem de uma nova cidade que não conheceria em outro contexto. Os bons encontros e as risadas que o corre e a sorte permitem. O privilégio de acolher e ouvir histórias. O enorme privilégio de, na maioria das vezes, não ter de levar nada de trabalho pra casa.
do que é ruim
Os clientes, quando arrogantes e mal-educados. Alguns colegas. Responder por falhas alheias. Toda a já sabida questão da ausência e das privações, além dos efeitos nocivos que a vida nas alturas provoca no corpo e na mente já no médio prazo. A rotina desregrada. O não-pertencimento inerente (e inescapável) à vida em viagem.