tudo ótimo, maravilhoso
Recebi uma mensagem privada na rede vizinha. Era B., uma amiga antiga, perguntando como tinha sido a mudança. Se disse feliz, pois parecíamos estar bem.
Dois segundos me bastaram pra entender de onde vinha essa percepção: apesar de quase nunca aparecer nas fotos que publico, desde que nos mudamos eu passei a compartilhar muito sobre a vida no novo país: ruas charmosas, parques bem conservados, cafés encantadores… pequenas amostras embasbacadas de uma rotina cheia de imagens que, apesar de terem o seu apelo, eram só parte da verdade.
Tudo muito performático, exibindo sempre o recorte mais atraente do que tenho visto e vivido por aqui. Naturalmente, uma armadilha.
Adoro a premissa básica das redes: a ingênua premissa da proximidade, da troca. Eu verdadeiramente gosto de saber por onde andam os amigos, o que leem, veem, fazem. Gosto de vê-los bem. Quando comecei a compartilhar imagens da nova rotina, minha intenção era essa: dividir com os meus um pouco das coisas bonitas que passei a encontrar pelo caminho. Apesar de bem intencionado, acabei criando uma mentira.
B., minha amiga, desculpe não ter sido sincero contigo.
Os cenários aqui são lindos, mas talvez eu não esteja tão bem quanto faço parecer – e, juro, não estava nos meus planos enganar ninguém com essa fantasia. Por trás do que vai ao ar também há muita coisa que só uma observação mais detida permitiria identificar. Por isso, não acredite cegamente no que a gente publica nesses lugares.
Zerei o feed e parei com as publicações. Foi a maneira que encontrei de me reconciliar com o que sinto de verdade. Por ora, farei um pouco de silêncio.